João Augusto Gama da Silva*

MEMÓRIAS DO JORNALISMO E DA COLUNA SOCIAL — O pano de fundo do trabalho de Jorge Carvalho sobre o jornalismo e a coluna social, com foco principalmente a partir dos anos cinquenta do século passado, é um estado pequeno, atrasado, com um índice elevado de analfabetismo. Uma economia concentrada na monocultura da cana-de-açúcar, no gado e nas poucas indústrias têxteis. No interior, em muitas cidades como Itabaiana, Ribeirópolis e Boquim, predominava uma política populista, controlada pelos chefes políticos arbitrários e violentos. O Governo Federal estava sempre criando as famosas “frentes de trabalho” para socorrer as populações do interior afligidas pelas secas. Havia muita acusação de desvio de dinheiro público destinado às frentes de trabalho. Aracaju, pequena, sem saneamento sanitário, dominada pelas muriçocas. O mosquiteiro era um equipamento doméstico fundamental. As noites em Aracaju eram terríveis. Não havia universidade. As escolas superiores eram poucas. As oportunidades de trabalho raras. Os jovens, como Zé Carlos Monteiro, Zezé Pacheco e outros, migraram para o Rio e/ou São Paulo em busca de oportunidades.

Livro “Memórias do Jornalismo e da Coluna Social” de Jorge Carvalho ⏐ Divulgação

Aracaju tinha uma imprensa pequena, miúda, compatível com sua dimensão. Com o advento da era JK o Brasil começa a mudar. Sergipe também. Jorge Carvalho estuda a imprensa e a coluna social a partir daí. A inquietação brasileira chega a Sergipe. Novos hábitos. Apresentações de Procópio Ferreira. “As mãos de Eurídice”, com Rodolfo Mayer, monólogo que tem diversas apresentações, é aplaudido de pé. João Costa, pela SCAS, Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, encena “Chuva”. Alencar Filho e Aglaé montam “Eles não usam black tie”. A Federação das Indústria de Sergipe – FIES traz o professor Vilhena de Moraes, psicólogo, que altera o dia a dia da cidade. A Rádio Cultura, emissora católica, transmitia as palestras do professor Vilhena, proferidas na Ação Católica, com a recomendação de que as crianças fossem retiradas das salas.

CONTINUA APÓS PUBLICIDADE

Jorge Carvalho, de forma brilhante, nos apresenta a coluna social do período. Registra uma época importante da vida sergipana. Recupera o papel da coluna social como registro histórico. A fantasia de um período se transforma em história. Os colunistas sociais, inevitavelmente, escrevem ou contam uma época. Histórias de pessoas, hábitos e costumes. Pesquisando o trabalho dos colunistas sociais, como Anderson Nascimento, Araripe Coutinho, Clara Angélica Porto, Carlos Henrique de Carvalho, o Bonequinha, Lânia Duarte, Luiz Daniel Baronto, Luiz Adelmo, Márcio Lyncoln, Osmário Santos, Paulo Nou, Thais Bezerra e tantos outros, Jorge Carvalho nos leva a reconstituição de uma sociedade nos últimos sessenta anos. Nos mostra o período áureo dos clubes sociais, como a Associação Atlética e o Iate Clube e a posterior decadência com a mudança dos hábitos sociais. Nos relembra a beleza da mulher sergipana como Nilza Brito, Leda do Valle, Maria Luisa Cruz, Isaurinha Mascarenhas e muitas outras. Registra a mudança do eixo social saindo da Praia Formosa para a Atalaia. 

O livro do professor Jorge Carvalho é um trabalho imprescindível para todo estudioso da história sergipana e leitura obrigatória para todos.

* João Augusto Gama ⏐ Militante político, advogado, empresário e gestor público. Foi prefeito de Aracaju e primeiro presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Sergipe.