Congresso Em Foco

Em delação premiada, o ex-ministro Antonio Palocci, preso por dois anos e condenado na Operação Lava Jato, fez acusações contra o jornalista Roberto D’Ávila, da GloboNews. Em seu terceiro depoimento à Polícia Federal, em abril de 2018, Palocci disse que o jornalista se ofereceu para atuar como espécie de laranja e receber dinheiro de empreiteira investigada na Lava Jato para a produção do filme “Lula, o filho do Brasil”, inspirado em biografia do ex-presidente.

O ex-petista disse que D’Ávila, que era produtor do filme, lhe ofereceu comissão para intermediar a transação com o grupo Schahin, que mantinha contratos com a Petrobras. A informação foi publicada pela revista digital Crusoé. Em entrevista à publicação, D’Ávila refutou as declarações de Palocci. “Não fui laranja nenhum. Fui produtor do filme e várias empresas contribuíram”, afirmou. “Isso é uma mentira deslavada”, acrescentou (leia mais abaixo a resposta dele).

GloboNews / reprodução

O assunto foi um dos mais comentados no Twitter brasileiro nesta manhã com a #LaranjalDaGloboNews, impulsionada sobretudo por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, em contraofensiva às suspeitas levantadas contra o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), alvo de hashtags negativas nos últimos dias.

Contrato com a Petrobras

Conforme relato da Crusoé, Palocci afirmou que a Schahin se ofereceu para remunerá-lo em troca de ajuda para renovar contrato que mantinha com a Petrobras. O ex-ministro disse que sugeriu, após a renovação do contrato, que o grupo contribuísse também com o PT. Segundo ele, surgiu então a ideia de que a empreiteira poderia ajudar a financiar o filme. Ele contou que repassou o contato de Roberto D’Ávila a Milton Schahin, dono do grupo.

De acordo com o delator, o jornalista o havia procurado pedindo ajuda, após indicação de Lula ou alguém ligado ao ex-presidente, de R$ 5 milhões para produzir o filme. Palocci afirma que D’Ávila se ofereceu para atuar como intermediário caso empresas que pretendiam investir na produção não quisessem aparecer. Segundo o ex-petista, também disse que poderia lhe pagar comissão em cima dos valores arrecadados.

Em trecho da delação reproduzido pela revista, o ex-ministro narra que D’Ávila disse que havia quatro possibilidades para o repasse desses recursos ao filme. Eram elas, conforme o delator: doar abertamente e divulgar seus nomes como apoiadores; doar abertamente e manter em sigilo suas marcas; efetuar pagamentos às empresas do jornalista, com apoio financeiro em segredo;  ou efetuar contratos com a produtora de D’Ávila para dar suporte às transferências – hipótese em que o sigilo também seria mantido.

Palocci disse, ainda, que o Planalto atuou diretamente para beneficiar a Schahin na Petrobras. Ele contou que, após ter sido procurado pelo empreiteiro, conversou com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O ex-petista relatou que Dilma se comprometeu a receber Milton Schahin para resolver pendências da empreiteira. O delator afirmou que a então ministra admitiu ter sido a responsável por incluir o grupo no “processo”. A reportagem não especifica a que processo ele se refere nem se Palocci recebeu a “comissão”. Em março do ano passado, as empresas do grupo Schahin tiveram falência decretada pela Justiça.

Congresso em Foco procurou a assessoria de Dilma e aguarda retorno. Caso a ex-presidente se manifeste, a reportagem será atualizada.

“Não existe laranja”

D’Ávila rebateu a versão de Palocci. “Era 2008 e Lula tinha 90% de aprovação. Aquilo era um negócio para nós. Nossas empresas pegaram dinheiro de várias empresas. Não tinha ideia daquilo, daquele conluio todo das empresas e a Petrobras”, declarou à Crusoé.

O jornalista disse que não sabia, na época, que a Schahin tinha contrato com a Petrobras. “Não existe laranja. Palocci não falou a palavra laranja”, contestou. Segundo ele, Palocci mentiu sobre a oferta de comissão em troca de ajuda na arrecadação para o filme. “Isso não é verdade. Ele é um delator. É uma mentira deslavada. Isso é uma briga política e botaram o filme do Lula dentro dessa briga. Dez anos atrás ninguém tinha ideia”, ressaltou.