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A Polícia Civil de São Paulo realizou nesta sexta-feira (12) uma ação de busca e apreensão em endereços de lideranças do SindMotoristas (sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus).

A investigação apura a possível infiltração da facção criminosa PCC – Primeiro Comando da Capital no sindicato. A operação busca justamente apreender materiais que sirvam de provas para reprimir a célula da organização que, supostamente, atua dentro da representação sindical. Um dos investigados é Valdevan Noventa (PL-SE).

Segundo a Polícia Civil, a investigação apontou que dentro do sindicato há várias práticas criminosas, entre elas ameaça, extorsão, apropriação indébita, lavagem de dinheiro e ocultação de bens e capitais.

Tais delitos não só prejudicariam o sindicato como acarretariam rombos aos cofres públicos, uma vez que o transporte da capital é subsidiado pela prefeitura.

“Eles exigiam dos empresários de ônibus de São Paulo, que são vítimas também de ameaças, que o fornecimento de cestas básicas, de planos de saúde, plano odontológico e outros benefícios dos trabalhadores fossem oferecidos por empresas escolhidas pelo sindicato”, explicou o delegado Roberto Monteiro, titular da 1ª Delegacia Seccional Centro da capital.

“Essas empresas acabavam depois passando propinas para o presidente do sindicato, o Valdevan Noventa, e também para membros da diretoria do SindMotoristas”, acrescentou o delegado.

Segundo a Polícia Civil, o esquema começou a ser desbaratado depois que três denunciantes passaram informações sobre como funcionavam as ligações do sindicato com as empresas de ônibus. As autoridades dizem que era um esquema que chegava a movimentar R$ 20 milhões por mês.

Outra fonte de extorsão teria vindo após a doação de terrenos avaliados em R$ 6 milhões. Eles seriam destinados a uma cooperativa para a construção de casas para trabalhadores do transporte, mas, segundo a polícia, foram vendidos e o dinheiro serviu na campanha de Valdevan a deputado federal.

A polícia afirma também que todos os trabalhadores do sistema municipal eram obrigados a se sindicalizar, sob risco de serem demitidos pelas empresas. Entre os mais de 45 mil funcionários do transporte público da capital, 98% são sindicalizados.

As grandes empresas do sistema estrutural são pertencentes a famílias tradicionais que estão estabelecidas há décadas no transporte público municipal. Grandes garagens em locais estratégicos, por exemplo, são uma das vantagens das quais dispõem no cenário urbano da capital.

Perguntado se as empresas que atuam no setor teriam se beneficiado com o pagamento da propina para evitar greves, por exemplo, o delegado disse que as companhias não foram coniventes com o esquema montado no sindicato. Segundo Monteiro, as investigações também não apontaram agentes públicos envolvidos e a prefeitura também seria vítima da ação criminosa.

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Durante as buscas na residência de Valdevan, em Taboão da Serra, foram localizadas 40 cestas básicas, que deveriam ser destinadas para funcionários do sindicato. A Polícia Civil pretende ouvir o sindicalista com a intenção de saber por qual motivo os mantimentos estavam na casa dele. No local também foram localizados dinheiro, relógios e documentos.

Já no haras foram encontrados 50 cavalos de raça, sem qualquer tipo de documentação, conforme a polícia.

A operação denominada Chapelier é coordenada pela 1ª Delegacia Seccional Centro. O nome é uma referência à Lei de Le Chapelier, aprovada no início da Revolução Francesa, 14 de junho de 1791, com a intenção de proibir os sindicatos de fazerem greve ou ações que causassem dano à sociedade.

QUEM É VALDEVAN NOVENTA

Valdevan Noventa se tornou motorista de ônibus no fim da década de 1980 em São Paulo. Em 2000, foi eleito secretário-geral do SindMotoristas e, em 2003, assumiu a secretaria de finanças da entidade, onde ficou por uma década.

Em 2018, Valdevan foi eleito deputado federal por Sergipe e se licenciou da presidência do sindicato. Em março deste ano, foi cassado por suspeita de abuso de poder econômico durante a campanha eleitoral.

Segundo o processo que provocou a cassação do mandato, integrantes da equipe de Valdevan aliciaram dezenas de moradores de Estância e Arauá, em Sergipe, para simular doações ao então candidato.

“O perfil dos doadores era incompatível com o valor doado, uma vez que vários eram beneficiários do programa Bolsa Família e alguns deles confirmaram ter apenas emprestado o número do CPF para operação financeira”, disse o TSE ao divulgar a cassação.

Foram feitas mais de 80 doações de R$ 1.050 na mesma agência bancária, o que despertou o alerta sobre a possibilidade de fraude. O Ministério Público Eleitoral ajuizou uma ação de investigação que confirmou a irregularidade.

Valdevan afirma ter sido o único deputado federal eleito por Sergipe a não receber recursos dos fundos partidários ou eleitoral. “Com isso, as doações realizadas após as eleições foram para cobrir as dívidas da campanha, sem qualquer intenção de ferir as regras eleitorais”, disse.

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