Luciana Calderari

Foram lançados os 3 últimos episódios do documentário “Pacto Brutal”, da HBO Max, que conta a história do assassinato macabro da estrela da novela “De Corpo e Alma” por seu colega de elenco com 18 estocadas, e a luta de sua família para que as investigações policiais fluíssem e para que a justiça fosse feita com o rigor da lei. Vale a pena assistir e tomar conhecimento de todos os caminhos dessa história, além da refletir sobre as leis brasileiras e a lenta evolução de nosso burocrático sistema penal.

HBO/Divulgação

Vale a pena ver a série documental “Pacto Brutal”, dirigida formidavelmente por Tatiana Issa, relembrando o feminicídio que chocou o Brasil em 1992, às vésperas do Ano Novo, ofuscando até notícias sobre a renúncia do então Presidente Fernando Collor. O documentário conta passo a passo o desenrolar dos acontecimentos desde o último dia de vida de Daniella sob ótica de sua mãe, e autora da novela “De Corpo e Alma” da TV Globo, a escritora Glória Perez. Seus depoimentos são complementados por vários artistas e colegas de Daniella, familiares, policiais, e outros envolvidos no caso que vão auxiliando na montagem do “quebra-cabeça” para desvendar o crime. Glória abre seu baú de guardados sobre o caso, apesar da imensa dor, e resolve revelar ao público toda a saga investigativa que teve de fazer por conta própria para poder desvendar todas as nuances do assassinato da filha, e rechear seu advogado de argumentos para que os assassinos não se safassem.

Já nos dois primeiros episódios relembramos com pesar os momentos de choque e luto vendo as fotos do corpo de Daniella e as cenas do enterro. A atriz e bailarina, que despontava como grande estrela e era considerada a “namoradinha do Brasil”, levou uma multidão de pessoas indignadas às ruas de todas as classes sociais, etnias e idades que clamaram por justiça. E de cara nos deparamos com as “trapalhadas” de determinados policiais, os entraves da lei, a burocracia dos limites de jurisdição, aplicação branda da lei por juízes, pessoas que ajudaram as investigações e pessoas que pareciam querer atrapalhar.

Trailer de Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez

Assistindo aos primeiros capítulos eu me perguntei por muitas vezes: Se um caso de tamanha repercussão nacional, com gente famosa, com milhares de pessoas acompanhando as investigações e pedindo justiça aconteceu tanto descaso, morosidade e revezes… Imagina se fosse eu? Uma desconhecida sem apelo midiático, que só sou queridinha dos meus pais… E se fosse você leitor(a)? Acha que o tratamento teria sido diferente 30 anos atrás, ou agora? Acredita que no teu estado funcionaria como no Rio de Janeiro?

Lembrando que na época não se usava o conceito ‘feminicídio’, como escrevi acima. Porém deixo enfatizado que o foi se prestarmos atenção nas palavras ditas pelo assassino sobre os motivos que o levaram a matar. Ele, asquerosamente, joga a culpa na própria vítima colocando a mulher como responsável pelo crime. “Ela me levou a fazer isso… (SIC), segundo Guilherme de Pádua”. (Oi?) Ainda bem que já existe a Delegacia da Mulher e a Lei Maria da Penha fez o sistema evoluir nesse sentido. Óbvio, que ainda temos uma grande caminhada, mas os primeiros passos foram dados. A mudança da Lei Federal sobre isolamento do local e preservação da cena do crime, fundamentais para o trabalho da perícia criminal e descobertas sobre delitos, também só aconteceram após o caso de Daniella. E o próprio assassinato, ajudou a fomentar a criação de uma lei para incluir homicídio na lista de crimes hediondos após Glória Perez colher 1,3 milhões de assinaturas com tal pedido: a Lei 8.072/90.

Atores da Globo e Gloria Perez, terceira da esq. para dir., com pilhas de assinaturas pedindo a inclusão do homicídio qualificado na Lei dos Crimes Hediondos, em Brasília – GloriaMFPerez/Facebook

Após refletir me restou escrever e pedir a você, leitor(a), que também reflita sobre nosso sistema que cria as leis e o que aplica. Vamos juntos tornar as leis brasileiras mais pragmáticas? Já pensou no que você pode fazer? Primeiramente podemos escolher os deputados que vamos votar nessas eleições com bastante atenção e critério pois são eles quem fazem e aprovam as leis. Sugiro uma busca imparcial na internet sobre os candidatos. Também sugiro um mega abaixo assinado sobre a Lei Ficha Limpa já que após 30 anos, o assassino da Daniella: Guilherme de Pádua, tem uma ficha criminal limpa e sem qualquer menção à morte da atriz! Podendo até se candidatar para as próximas eleições!! (Oi?)

Qual sua sugestão? Deixe seus comentários e bora conferir o final do documentário.

Inté!

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Luciana Calderari, escritora e historiadora

Pacto Brutal | Daniella Perez, A Namoradinha do Brasil