Antonio Carlos Valadares

Quem estiver pensando que a pandemia está impedindo uma forçação de barra para a viabilização,  dentro do bloco do governo, de nomes com vistas à sucessão de 2022, está muito enganado.

Movimentam-se nos bastidores, procurando fortalecer suas pretensões, os deputados federais Laércio Oliveira (SD), Fábio Mitidieri (PSD) e o senador Rogério Carvalho (PT). Todos lutam pela preferência do governador Belivaldo Chagas. É bem possível que neguem publicamente, mas a verdade é que só pensam naquilo e agem com muita devoção a esses afazeres futuristas. Eles sabem que Belivaldo não tem voto. Mas tem o governo em suas mãos, a caneta pra nomear ou demitir, mexer em secretarias e órgãos do governo, e dispõe, ainda, do poder para anular privilégios e vantagens de empresas que sobrevivem às custas do erário.

Esse poder transitório de alterar o conforto de muita gente para mais ou para menos, num Estado pequeno e pobre como Sergipe, que é altamente dependente do poder público, impede, salvo no campo da oposição, posicionamentos de ordem política sem o carimbo do governo, os quais, se não forem cuidadosamente sopesados poderão gerar perdas de difícil reparação. 

Ana Lícia Menezes / PMA

O “X” DA QUESTÃO E O IMPONDERÁVEL.

É aí onde está o “x” da questão, o sonho de quem milita na oposição ver quebrada a aliança governista, para a partir daí drenar em seu favor o caminho do poder. Há quem pregue o contrário, de  que nem que a vaca tussa tal fato não se consumará.  A não ser que aconteça,  como acreditam os supersticiosos, algo que chamamos de imponderável cujo encadeamento escapa à visão de um simples mortal. 

Em todo caso, devemos compreender que a atração que o poder exerce é uma  realidade na região Nordeste, e a situação de Sergipe não pode ser diferente, onde, aliás,  predomina quase sempre a vontade do grupo político que tem ao seu lado a força do governo. 

NEM SEMPRE O PODER POLÍTICO E O DINHEIRO GANHAM ELEIÇÕES

Em meio a esse incontrastável poderio do governador Belivaldo, no entanto, vimos, nas eleições municipais,  o vexame que ele passou em sua terra natal, Simão Dias, quando, para ajudar ao seu candidato a prefeito, mudou informalmente a capital para lá, usou e abusou do poder político, inclusive com ameaças a empresários e eleitores, sem obter êxito em tal estratégia.

Há quem considere que Simão Dias foi uma exceção.

Mas é bom anotar que aquele pleito municipal deu um aviso bastante perceptível de que nem sempre o poder político e o dinheiro, garantem o sucesso de uma campanha majoritária.

A ELEIÇÃO DE 2018, UM FENÔMENO À PARTE. NÃO HAVERÁ REPIQUE EM 2022

Há uma constatação a ser lembrada aqui, mas que a mídia de um modo geral deixa de opinar porque isso contraria bastante o governador. Trata-se do tema de sua reeleição em 2018, quando dois fatores contribuíram para o resultado: 

1) O abuso do poder político, conforme comprovou o TRE, pelo placar de 6×1, em cuja decisão cassou-lhe o mandato, mantendo-o no poder, em face de uma liminar ao TSE; e

2) O apoio de Lula, à chapa majoritária, o qual mesmo preso em Curitiba, foi capaz de mostrar a sua força eleitoral naquele momento, ao apoiar os nomes contidos na chapinha  distribuída por cabos eleitorais em todos os recantos do Estado, contendo os nomes de Haddad, Belivaldo e Rogério como seus candidatos, os quais exploraram ao máximo o discurso de “Lula Livre”, como um refrão bem sucedido do marketing durante toda a campanha.

Apurados os votos, viu-se que na região Nordeste, as urnas confirmaram a eleição de 9 governadores, 4 senadores do PT, e outros tantos, entre seus aliados.

AS FAVAS CONTADAS E O IMBRÓGLIO DA SUCESSÃO 

O primeiro passo a ser tomado, antes de qualquer discussão sobre o tema, seria aguardar a finalização do processo no TSE. Mas como poucos são os que acreditam na punição máxima da perda de mandato do governador, vamos raciocinar com parcimônia, sem previsão antecipada, deixando esse assunto tão delicado, a cargo da Justiça que tem competência para resolver. 

Não é demais registrar que apoiadores do esquema de poder, esquentam as mídias dando como favas contadas mais uma vitória do candidato que for apoiado pela máquina do governo do Estado e de quase todas as prefeituras, inclusive a de Aracaju,  confirmando mais quatro anos de domínio político do agrupamento. A única dúvida nessa equação é se Edvaldo apoiaria a Rogério Carvalho, o candidato natural do PT ao governo do Estado, tendo em vista que romperam ou esfriaram os seus laços políticos nas eleições municipais de 2020, com as tintas da desconfiança. 

O Senador Rogério Carvalho, no período da eleição, ainda terá seis longos anos de mandato. Portanto, é  esperado que, tendo mandato e tempo, almeje uma candidatura de governador. Sabe-se que Belivaldo e Edvaldo hoje em dia rezam numa mesma cartilha. Se assim for como fazer um arranjo político para que o PT conte com o apoio dos dois mandantes, o do governador de Sergipe e do prefeito de Aracaju, se há, como é público e notório, queixas tão evidentes? Uma boa pergunta a ser respondida no prazo das desincompatibilizações, começo de abril de 2022. 

Pode ser que Edvaldo seja picado pela mosca azul e resolva renunciar a prefeitura para disputar o governo, fato que agradaria sobremaneira ao governador Belivaldo, uma vez que a sua correligionária do PSD, e sua protegida, a delegada Katarina sentaria na cadeira hoje ocupada pelo ex-comunista para exercer um mandato com duração de dois anos e nove meses.

Ana Lícia Menezes/PMA

A BALA NA AGULHA (Edvaldo Nogueira)

Aí é onde a porca torce o rabo, pois esse é o projeto tentador de Belivaldo, uma bala na agulha à espera para ser disparada. Mataria dois coelhos de uma só cajadada, deixando no governo como seu sucessor o mais recente e leal amigo e na prefeitura a mais nova e fiel amiga que a política arranjou para ele, se a eleição vingar. Como eu costumo lembrar: “A política é arte do diabo!”. 

O ELEITOR COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA PODE ESTAR PERGUNTANDO AOS SEUS BOTÕES

Mas o eleitor comum, como hoje é o meu caso, pode não estar pensando dessa forma. Fica  com a pulga atrás da orelha, perguntando aos seus botões: se o homem não tem voto, se Lula, o grande eleitor de 2018, está em liberdade, a bolsa família continua sendo paga e não tem mais padrinho, se este discurso já perdeu o sentido, qual o próximo discurso a viabilizar a eleição do candidato do governo?

O que esperar do apoio de um governo a um candidato à sua própria sucessão , cuja atuação ainda não ganhou a confiança nesses três anos de mandato, e que aparece aos olhos da população como insípido, inodoro e incolor?

Muito tempo ainda pela frente para uma avaliação segura.

TUDO TEM O SEU TEMPO DETERMINADO, E HÁ TEMPO PARA TODO O PROPÓSITO DEBAIXO DO CÉU

(ECLESIASTES 3:1)

No  meu humilde  pensar, melhor a turma do governo, e da própria oposição,  mudar de foco, nesta fase triste pela qual passa o nosso Estado, com mortes e infestação por coronavírus em alta. Seguir o conselho do Eclesiastes, aguardar o tempo certo. Agora é o momento de combater a pandemia como prioridade número 1, lutar para salvar vidas, estruturar o sistema de saúde e prover os hospitais de respiradores e leitos, imunizar em massa a população contra a COVID-19, ao invés mergulhar em planos e articulações para manter-se no poder, salvar secretarias e cargos em Comissão,  vantagens e privilégios ou ganhar mandatos eletivos nas eleições de 2022.