NE Notícias

A brilhante jornalista Miriam Leitão foi presa e torturada, grávida, aos 19 anos, quando estava detida no 38º Batalhão de Infantaria em Vitória.

A tortura começou no dia 4 de dezembro de 1972, quando teve que ficar nua diante de 10 militares e 3 agentes da repressão.

Torturada, levou tapas, chutes, golpes que abriram a sua cabeça.

Ficou horas intermináveis trancada na sala escura com uma jiboia.

Jamais esqueceu das horas de terror com a jiboia.

Ficha de Miriam Leitão (ou Amélia) quando foi presa, em 1972 Foto: Pedro Ladeira / Arquivo pessoal

Vi minha sombra refletida na parede branca do forte, a sombra de um corpo mirrado, uma menina de apenas 19 anos. Vi minha sombra projetada cercada de cães e fuzis, e pensei: “Eu sou muito nova para morrer. Quero viver.

Eu morava numa favela de Vitória, o Morro da Fonte Grande. Num domingo, 3 de dezembro de 1972, eu e meu companheiro na época, Marcelo Netto, estudante de Medicina, acordamos cedo para ir à praia do Canto, próxima ao centro da capital. Acordei para ir à praia e acabei presa na Prainha. É o bairro que abriga o Forte de Piratininga, essa construção bonita do século 17. Ali está instalado o quartel do 38º Batalhão de Infantaria do Exército, do outro lado da baía.

–Moço, cadê a ordem de prisão?

O homem botou a metralhadora no meu peito e respondeu com outra pergunta:

–Esta serve?

Sobre mim jogaram cães pastores babando de raiva. Eles ficavam ainda mais enfurecidos quando os soldados gritavam: “Terrorista, terrorista!”.

O homem de cabelo preto, que alguém chamou de Dr. Pablo, voltou trazendo uma cobra grande, assustadora, que ele botou no chão da sala, e antes que eu a visse direito apagaram a luz, saíram e me deixaram ali, sozinha com a cobra. Eu não conseguia ver nada, estava tudo escuro, mas sabia que a cobra estava lá. A única coisa que lembrei naquele momento de pavor é que cobra é atraída pelo movimento. Então, fiquei estática, silenciosa, mal respirando, tremendo.

Torturada, a jornalista tremeu. Agora, quem treme é a democracia.

Como NE Notícias informou, no Senado, a bancada do PT, com a participação direta de Rogério Carvalho, decidiu apoiar o candidato de Bolsonaro, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a presidente da Casa.

Na mesma Casa, o PDT, que tem representantes em Sergipe, também anunciou apoio ao candidato de Bolsonaro.

Rodrigo Pacheco e Bolsonaro – Assessoria

Em sua coluna neste domingo, 17, no Globo, Miriam Leitão escreveu:

A oposição ao governo Bolsonaro só não pode dizer que não entendeu aonde ele quer chegar. Conspiradores como Donald Trump e Jair Bolsonaro fazem tudo às claras, e o daqui repete o roteiro com alguma defasagem. A distância que existe é entre original e cópia. Quando parlamentares do PT, PDT, PSDB se alinham ao candidato que Bolsonaro defende para presidir o Senado sabem o que estão fazendo. Compactuam. Os votos serão no escurinho, onde Tancredo ensinou que é o lugar das traições, mas os oposicionistas fazem às claras achando que todos entenderão o pragmatismo.

Na casa dos conchavos, tudo se passa como se não vissem o que há pelo Brasil. O presidente conduz de forma criminosa a gestão da pior pandemia que já se abateu sobre o país, mas o PT acha que pode se alinhar ao candidato que Bolsonaro defende, e o PDT, também.