Febraban

Quero deixar muito claro que os bancos não defendem o fim do parcelado sem juros. O que defendemos é um reequilíbrio da dinâmica do cartão de crédito para, de um lado, termos um redesenho do rotativo e, de outro, um aprimoramento das compras parceladas.

Os dados do estudo revelam a agenda das maquininhas independentes e aquilo que efetivamente move a forte toada feita por elas contra os bancos emissores. Revela, em especial, um modelo que se ancora e se beneficia do endividamento das famílias brasileiras, gerando altíssimo risco de crédito, e que tem como causa as altas taxas de juros cobradas nesse meio de pagamento. 

As maquininhas independentes tornaram parcela relevante do varejo dependente da antecipação de recebíveis. É um modelo totalmente artificial que estimula compras pelas famílias com prazo longo de financiamento, para sufocar os lojistas com taxas altíssimas de descontos. 

E quanto maior o prazo para o consumidor pagar, mais ele se endivida e mais dependente os comerciantes ficam da antecipação de recebíveis para fazer fluxo de caixa. Essas maquininhas independentes, em realidade, viciaram a dinâmica da indústria de cartões de crédito: alimentam e retroalimentam esse círculo vicioso que só traz prejuízos para toda a cadeia de cartões. Isso prejudica o comércio, que passou a depender cada vez mais de caixa, prejudica o consumidor, que se endivida com parcelas a perder de vista numa bola de neve e agrava a inadimplência das famílias. 

As maquininhas independentes são o único elo favorecido dessa cadeia, pois se apropriam das receitas de juros, não correm qualquer risco de crédito, não alocam capital e induzem endividamentos que se eternizam.

Os dados do estudo mostram, claramente, a distorção de um modelo no qual as taxas de juros das maquininhas independentes chegam a alcançar entre 60 e 130% ao ano. Mostram, principalmente, que essas maquininhas cobram do pequeno varejo patamares de taxas de desconto muito superiores às taxas de desconto dos bancos, algo como 3 vezes a mais na média.

A demonstração de que algumas maquininhas independentes não defendem os consumidores, mas o próprio modelo de negócio, é que, sem a receita de antecipação de recebíveis, teriam tido prejuízo de R$ 1 bilhão em 2022. Isso porque os dados revelam que a antecipação de recebíveis das maquininhas independentes possui maior concentração no total das receitas de pagamento, chegando até 65%, bem mais que os 50% das adquirentes ligadas aos bancos.

O setor bancário se manterá firme em três linhas de atuação:

1 – Diluição do risco entre os elos da cadeia, hoje concentrado nos bancos emissores que suportam todo o peso da alta inadimplência:

2 – Manutenção do cartão de crédito como relevante instrumento para o consumo; e

3 – Reequilíbrio da grande distorção que só o Brasil tem, com 75% das compras feitas com parcelado sem juros.