Comitê Científico do Nordeste

A análise da situação atual da pandemia em Sergipe indica que
situação no Estado tem melhorado.

Os resultados dos modelos de evolução dinâmica e a análise de risco estão em concordância com estimativas de previsão de risco com decrescimento do número de infectados e óbitos.

A trajetória no diagrama de risco mostra tendência de atingir situação de risco moderado alto.

O número de reprodução R(t) se manteve consistentemente abaixo de 1,00 (um) durante todo o mês de agosto e início de setembro, indicando decrescimento continuado de casos no Estado.

Há tendência de queda nos 9 Estados do Nordeste.

Marco Vieira / PMA (arquivo)

VOLTA DAS AULAS PRESENCIAIS

A volta às aulas presenciais, com segurança, no contexto da epidemia causada pelo SARS Cov-2 tem se constituído em um grande desafio para gestores escolares, profissionais de saúde e governantes.

Nesse sentido é muito importante que sejam utilizadas as melhores evidências científicas para definir as datas do retorno ao ensino presencial e guiar a formatação de estratégias e ações de adequação do ambiente escolar de modo a torná-lo o mais seguro possível.

Por outro lado, não se trata apenas de tornar este ambiente seguro do ponto de vista da infecção pelo novo coronavírus, mas, também, sobre outros aspectos, como a segurança alimentar, física e emocional de todo o corpo social da escola, sobretudo, tanto dos estudantes como dos professores e funcionários.

A população pediátrica apresenta um comportamento epidemiológico diferenciado em relação a Covid-19, não fazendo parte de grupo de risco, sendo responsável por apenas 2% dos casos no Brasil e no
mundo.

As crianças quando infectadas apresentam sintomas leves ou mesmo assintomáticas em relação à doença. E as evidencias indicam que este grupo populacional tem pouca relevância na cadeia de
transmissão da doença.

Metanálises já publicadas, sobre SARS Cov-1 e Influenza, apontam que o fechamento de escolas isoladamente tem pouco impacto sobre mortalidade, sendo, portanto, medida menos eficaz que outras medidas de isolamento social.

Estudos que compararam países semelhantes, Suécia (manteve escolas abertas para os dois primeiros anos do ensino fundamental) e Finlândia (que fechou todas as escolas), concluíram que a opção
de fechar ou não as escolas, teve pouco impacto no número de casos confirmados em crianças na idade escolar.

A Austrália manteve algumas atividades escolares mesmo no decorrer da pandemia e estudos realizados entre as escolas abertas, naquele país, detectou que o ambiente escolar não foi um grande foco de infecção, pois apenas 1% dessas instituições de ensino registraram casos significativos de infecção pelo Covid-19.

Por outro lado, abundam as evidências de que a opção de abrir escolas deve ser acompanhada de medidas de mitigação e prevenção da doença.

Podemos citar como exemplo o caso de Israel que não conseguiu realizar medidas adequadas de controle da transmissão com retorno às aulas sem as medidas de distanciamento, com salas fechadas com ar condicionado e sem limitação de alunos no seu interior.

E com isso levou a uma maior taxa de contaminação que a Austrália, por exemplo, que mesmo com escolas abertas, seguiu as medidas de prevenção – uso de mascaras, distanciamento social e higienização
frequente, reduzindo substancialmente os casos em suas escolas.

No contexto do Nordeste do Brasil outros fatores precisam ser levados em consideração, para além de uma concepção exclusivamente epidemiológica.

A quarentena acentuou as já conhecidas desigualdades no sistema educacional no nosso país. A questão da segurança alimentar, por exemplo, está sendo significativamente impactada; ora pela ausência de acesso à merenda escolar, importante complemento na alimentação, ora pelo abuso de alimentos ultraprocessados no domicílio, gerando
alterações no perfil ponderal dessas crianças.

O mesmo podemos apontar sobre a questão psicoemocional das crianças que na quarentena estão submetidas a um regime de pressão e tensão psicológica (irritabilidade, tédio e ansiedade), sobretudo aquelas menos resilientes ao regime de quarentena.

Nesse sentido, o Comitê Científico sugere a utilização de programas que já existem no âmbito escolar, como o Programa Saúde na Escola (PSE), entre outros, como meio efetivo de proteção integral das crianças e adolescentes, através da ativação de atividades de formação do corpo social da escola e do uso de ferramentas de proteção como aplicativos (MonitoraCovid etc.) e canais de comunicação e integração nos espaços escolares, através da ações variadas (remotas e híbridas).

Contudo, essas ações dependem de decisões políticas no nível mais alto da gestão governamental, colocando-as, como prioridade máxima e sob comando de quem efetivamente decida, nesse contexto da pandemia.

Portanto, urge pensarmos, todos, governos, educadores, profissionais de saúde, sociedade, famílias, em planos estratégicos de enfrentamento dessa questão.

Como já pontuado, baseados nas melhores evidências científicas. Também pensando sempre para além das questões atinentes apenas ao
contágio, sobretudo, na nossa realidade social.

Estamos diante de um problema complexo e que não tem solução fácil ou simplista. E que pode ser diferenciado para cada território ou região.

Assim, seguem abaixo alguns princípios que podem nortear um planejamento rigoroso e cauteloso para a volta progressiva e escalonada às aulas com segurança e com o menor risco possível:

1) Análise da situação epidemiológica (número de casos e óbitos) e assistencial (disponibilidade de leitos) de cada localidade;

2) Incorporação das medidas de prevenção: medição diária da temperatura de todos alunos; uso obrigatório de máscaras, distanciamento físico; higienização das mãos, dentre outras;

3) Capacidade de identificar, isolar e testar (preferencialmente com RT PCR) qualquer pessoa na escola que apresentar sintomas, bem como seus contatos;

4) Estruturar, no âmbito das escolas, grupos que promovam a potencialização de programas de proteção integral, a exemplo do NIL (núcleo intersetorial local) cuja missão é o acompanhamento de todas as ações de integração, proteção e prevenção e assistência, como no caso do PSE.

5) Criação de uma Rede de Proteção Integral à comunidade escolar, que agregue e integre todas os sistemas educacionais e redes de ensino no âmbito do Nordeste do Brasil, cuja missão essencial é o
compartilhamento de experiências exitosas locais e troca de saberes e boas práticas entre as escolas da região.