David Leite, consultor em Marketing Político e Eleitoral

A derrota é ingrata, sobremodo para quem perde! Sim, há quem ganhe perdendo e há quem perca ganhando. A eleição de Nossa Senhora do Socorro é exemplo clássico de vitória perdida.

O atual prefeito, Inaldo Luis da Silva, foi reeleito por ter abusado das ferramentas ao alcance dele – algum mérito? Talvez o preço já pago por Padre Inaldo para obter um novo mandato seja apenas uma nesga do valor final que lhe será cobrado mais adiante, se a justiça – a terrena e a divina – tardar mas não falhar.

Assessoria / Arquivo

Dizia o grande Millôr Fernandes que “o livre pensar é só pensar”. Li duas “análises” da performance eleitoral de Fábio Henrique no confronto contra Padre Inaldo. Carlos Batalha e Jozailto Lima escreveram praticamente a mesma coisa [links abaixo]. Aliás, os textos parecem cópia um do outro, com acréscimos pessoais aqui e ali para destoar. Os equívocos, portanto, são os mesmos.

Soa bastante conveniente para ambos os jornalistas – e o fazem até de “modo natural” – atribuir a Fábio Henrique a completa responsabilidade pela própria derrota, justamente o candidato mais sufocado pela falta de recursos financeiros e logísticos, desprovido de apoios políticos relevantes e militância voluntária – e veja que coincidência, ele também sendo O Perdedor…

Que motivação faria homens tarimbados no debate político e eleitoral ignorarem as inúmeras e evidentes – flagradas em áudio e vídeo – patifarias promovidas contra Fábio Henrique pelo prefeito durante a campanha e culpabilizar unicamente o derrotado pelo insucesso no pleito?

Antes de responder à questão, um ponto convergente: óbvio que Fábio Henrique não está isento de responsabilidade pela campanha mal sucedida.

Erros houve, a começar por não ter se preparado antecipadamente para um embate decisivo e contar com a sorte como aliada, desacreditar de informações estratégicas qualitativas, sem falar de problemas internos no grupo político e até a falta de um candidato a vice-prefeito com força eleitoral.

Contudo, são muitos os fatos “estranhos” nesta campanha, a começar pela luta de Fábio Henrique contra forças poderosas, organizadas e protegidas pelos poderes estaduais, incluindo a imprensa, como nunca ocorreu no passado.

Nunca vi uma eleição na qual se comprou voto com dinheiro vivo até no gabinete do prefeito e ficou por isso mesmo; onde a máquina pública foi usada sem reprimenda judicial, servindo tanto para a distribuição irregular de cestas básicas quanto para efetivar promessas de emprego público em troca de apoio político, e onde até traficante de drogas condenado pela Justiça fez as vezes de cabo eleitoral em clima de normalidade. Foi muita patifaria…

Diante de falha assim tão gritante, os baianos Carlos Batalha e Jozailto Lima, figuras perspicazes e muito espertas no âmbito do jornalismo sergipano, certamente não desprezam a capacidade dos seus leitores e ouvintes de classificarem tais “análises” como “bastante relativas”.

E por “relativas”, leia-se: uma meia verdade adornada de pitacos e achismos na qual falta um dente fundamental para completar a mordida. Analisar é preciso; ser verdadeiramente preciso na informação analisada, também!

“Mas eles não estão obrigados a agir assim. Cada um ‘analisa’ a cena política como lhe for conveniente, a partir de parâmetros próprios”, pode-se elucubrar. Tudo bem, nada contra! Todavia, neste caso, tal qual Padre Inaldo, obtém-se um ganho perdido. De que adianta ter leitores e ouvintes sempre reticentes ou duvidosos das intenções subjacentes? A aposta, penso eu, é alta.