Andreza Azevedo, Núcleo de Comunicação Social do HU

Uma “brincadeira” que tomou conta da internet vem preocupando famílias e educadores. Trata-se do desafio “quebra-crânio”, no qual duas pessoas derrubam uma terceira e esta cai de costas, na maioria das vezes batendo a cabeça contra o chão. Uma busca rápida na internet permite encontrar diversos vídeos com esse teor, grande parte deles em ambiente escolar, onde crianças e adolescentes são provocados por colegas e acabam participando do desafio. 

O ato, visivelmente perigoso, é condenado pelo médico Ronald Barreto, ortopedista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS), filial da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Ele explica que o impacto da queda pode causar fraturas e danos irreversíveis na coluna, com limitação dos movimentos do corpo e do desemprenho cognitivo da pessoa.

“É um desafio extremamente perigoso para a saúde, com sério risco de morte, por isso os pais devem estar muito atentos, orientando seus filhos. A ‘brincadeira’ pode causar um traumatismo craniano, deixar uma sequela motora, a pessoa pode ficar paralítica, ter uma alteração cognitiva. Podemos comparar essa queda até ao fato de cair de uma moto sem capacete”, destaca o médico.

Reflexão

 “Na verdade, não posso nem chamar isso de brincadeira, de desafio, isso é um problema mental de quem está fazendo e de quem decide participar. É preciso fazer um alerta a toda a sociedade. Além de médico, sou pai, e fiquei com uma tristeza e uma preocupação muito grande ao ver esses vídeos”, desabafa o ortopedista.

De acordo com ele, dentre as consequências causadas por uma queda durante o desafio quebra-crânio, pode-se falar em lesão cervical. “A pessoa pode quebrar o pescoço, ficar tetraplégica, usar cadeira de rodas, mudar a vida dela para sempre, tudo isso por causa de uma situação que não tem sentido algum”, complementa.

“Nós, como formadores de opinião, temos que fazer uma reflexão junto com os pais sobre o que estaria levando as pessoas a terem esse tipo de atitude, de brincadeira, até com os próprios familiares, como foi visto na internet. O que está faltando? Em que estamos falhando? Em vez de usar o nosso poder criativo para o bem, estamos usando para o mal?”, questiona o médico. 

Risco sério

A preocupação do ortopedista merece atenção. Em novembro de 2019, uma adolescente do Rio Grande do Norte morreu depois de um traumatismo craniano causado pelo desafio do quebra-crânio. 

Casos de ferimentos graves também têm sido registrados pelo país. Por conta disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou uma nota de alerta em que um dos trechos define o “quebra-crânio” como um ato de violência muito grave, no qual a vítima é imobilizada, não sabe o que vai acontecer com ela, tem uma queda para trás e sem proteção. 

“A consequência inicial é o encontro violento do corpo ao chão, quando a cabeça e pescoço sofrerão o maior impacto, levando a um traumatismo cranioencefálico (TCE) em níveis progressivos de gravidade. Há grande chance de traumatismo de vértebras, especialmente cervicais (do pescoço) e medula”, diz a nota.

“O impacto da cabeça com o chão pode desencadear edemas, hematomas externos, fraturas ósseas e sangramentos internos de pequena a grande intensidade, levando a lesões irreversíveis no cérebro. A vítima pode apresentar sintomas imediatos, como dor local, confusão mental, perda de equilíbrio, desmaios, crises convulsivas, estado de coma e morte. A partir do trauma, esses sintomas poderão aparecer também vários meses depois, como sequelas das lesões provocadas”, alerta a nota da SBP.

Sobre a Rede Hospitalar Ebserh

O Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS) faz parte da Rede Hospitalar Ebserh desde outubro de 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.

Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.

Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Hospitalar Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.